segunda-feira, 31 de março de 2008

Apologia ao Tempo

Um pensar corroído
Obstante um tempo passado
Remoto, que alucina
Cria especulações

Não denota a saliência
Da fúria de dragões
Para a inconveniência
De males que afetam

Porque tempo não corrói
As rugas do rosto
Apenas instruciona
O que haveria de ser feito

De uma forma simbólica
Uma margem de erros
Progressos e sucessões
É mais que uma gramática

E toda língua humana
Não há elixir que prolongue
A vida e o tempo nosso
Tempo forte, tempo louco

Nem sequer me deixa quieto
Sinto as veias corriqueiras
Do tempo que já perdi
Um mensageiro do tempo

Olha pro tempo perdido
Sente o cheiro da saudade
Insinua a esperança
Do tempo que ainda virá


Meio poema desconcertado, de uma noite tranqüila e amedrontado pelos lados...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Pensamento?!?

Amar sem ter por quê... Amar porque se ama... Amar, amar, amar...
"Se eu não sou deste mundo então por que estou aqui? Se eu for perguntar pra Deus ele não vai me responder, eu faço um caminho onde a guerra ataca precisamente sem aviso prévio."

sábado, 1 de março de 2008

Uma Amanda

Amanda despedaçava seus sonhos, involuntariamente. Buscava a cada dia renovar seu arquivo de tranqüilidade, mas tornava-se cada vez mais atormentada. Queria distingüir realidade e fantasia, mas tudo era distorcido aos seus olhos.
Agora Amanda sangrava, definhava; suas mãos não obedeciam os comandos de seu cérebro. Amanda estava morrendo, mas sem sentir seus pulsos doloridos, e enojadamente, sentia sua alma caindo num abismo, gritando por socorro. Ela não fora capaz de se salvar.
Olhou ao redor, o que via era a negra penumbra do quarto e seu sangue escorrendo pelo chão limpo.
"Daqui a umas horas serei apenas mais um corpo no necrotério, na sala de autópsias."
Há muito tempo, Amanda pedira paz, hasteara a bandeira branca, mas a verocidade da sua morte gritara mais alto.
Amanda fechou os olhos e adormeceu.
Mesmo de olhos fechados, via fantasmas ao seu redor, dizendo que todo o feito fora em vão, ali ela estava mais perdida. As saídas não existiam, e um labirinto começou a formar-se na mente da pobre e inocente jovem Amanda.

Quando abriu os olhos, sobressaltada, uma mão pousou leve em sua testa. "Descansa!". Ouviu um sussurro. Olhou para o teto, mas a claridade a impedia de enxergar qualquer coisa. Fechou os olhos, duvidando de sua vida e também do paraíso.

Foram horas seguidas de total confusão entre o sonho da vida e sono da morte.
Amanda sentia a mão que pousara em sua testa sobre sua mão, tão pequena e fria, enquanto a outra tão calorosa lhe passava a sensação de um abrigo seguro.
Sua respiração ficava cada vez mais difícil, os tubos no nariz e na boca incomodavam-na. "Que ótimo! Eu não morri!" - ironizou em pensamento -. Alguém lutara pela vida de Amanda, mas não existia motivo algum para este feito. Ela queria, verdadeiramente, deixar a vida. E aquilo a fez sentir uma repulsa ainda maior.

Dois meses após a saída de Amanda do hospital (com uma bela história pra contar não sabia pra quem), o médico gentil que ficara velando dia e noite por ela vai até sua casa para visitar-lhe, mas a encontra deitada no chão, a cabeça envolta de uma poça de seu próprio sangue, os olhinhos castanhos ainda abertos, despida, um bilhete na mão e um revólver na outra.

"Faço minhas tuas palavras

Estou despida por que me masturbei pela última vez em minha vida, se a morte é prazerosa pra quem a tira, gostaria de sentir dois prazeres, um após o outro. Tudo o mais é superficial e ingênuo. A bala que está dentro de minha cabeça agora percorreu todo o meu corpo. 'Não se assuste com a morte, pois a vida trás consigo conseqüências bem piores, inclusive o suicídio...' Foi isso que ouvi de tua boca.
Perdoe-me pelo tempo que o fiz perder em cuidar de mim, mas não quero viver mais um segundo. A ausência da vida é melhor que a solidão em que me encontrava."