quarta-feira, 21 de maio de 2008

Um coração em mudança

A vida está em constante mudança, o que podemos fazer é acompanhar seu ritmo.


Sara acordou serenamente, como já o fazia todas as manhãs; tinha, por essência, um brilho pacato nos olhos castanhos madeirado. O cheiro da brisa marítima acarinhava seu rosto pequeno e arredondado; sorria com franqueza e era frágil e delicada.
Tratava, no entanto, das aguçadas dores de seu peito; desde que sua irmã partira, não teve a mesma paz. Dulce, sua irmã, era brava mulher, sempre cuidou de Sara com amor maternal, mas com coragem de soldado, partira junto com uma equipe médica, afim de tratar doenças e debater-se sobre leitos indigentes, cumprindo sua missão terra, pelo mundo afora; sua profissão a obrigava, seu amor pelas pessoas a acompanhava.
Sara levantou-se afoita e pôs-se a caminhar pela beira-mar, observando as gaivotas a voar baixinho pelas águas, pequenas embarcações flutuando sobre o mar, algumas perto, outras mais distantes. Sentia na pele macia o sol a lhe trazer boas recordações, de quando criança, nos parques perto de sua antiga morada.
O maior desejo dela era acordar todos os dias com aquela brisa suave, aquele cheiro de vida entrando pela janela, o sol aquecendo as maçãs do rosto numa manhã calma. Portanto, escolhera a casa de seus avós, já falecidos, para morar durante os tempos de Dulce em trabalho.
Sara contava exactos vinte e três anos, naquele dia. Esperava receber um convite de amigos mais chegados para comemorar a data, porém, até então, ninguém propôs-lhe nada, não que esse fosse um motivo para descabelar-se, Sara tinha as melhores companhias que alguém pode esperar. Enquanto caminhava, pensava consigo tantas coisas interessantes que poderia fazê-la feliz - ainda mais - no dia de seu aniversário. Quase não conseguia conter-se em tantas ideias! Andou, aproximadamente, uns oitocentos metros e voltou pra casa, rapidamente.
Adentrou a casa às pressas e, de súbito, o telefone tocou. Seu sorriso fez-se largo e indiscreto. Mas, ao atender, desfez, de imediato, tão belo sorriso.
Isabel, uma amiga, avisara-a que Dulce não teria mais nem três horas de vida. Um derrame cerebral seguido por enfartes instantâneos, seu coração estava parando. Sara não podia salvar quem mais amava em sua vida.
Também quis que o seu coração parasse...