quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Se é mais fácil cultuar os mortos que os vivos...

...então por que necessitamos das pessoas nas suas destrezas mais nobres e talvez ainda mais ridículas?

Ela andava meio estranha. Estaria usando drogas? Não. Terminou uma fase um tanto insuportável para sua espécie adolescente de viver!
Procurara em muitos lugares seu único lugar.
Um dia, quase sem querer, o encontrou. Na verdade, não foi sem querer, foi quase.
Viveu de sombras naquele dia, ouviu o que jamais desejaria ouvir por ninguém. Relutou para não chorar. Aprendeu com uma força incrível e sensata. Bateu na porta de muitos para ouvir um... Um?... Não ouviu nada... Cegamente, procurou um colo. Cegamente... Sentiu que sua pele estava ruminando para não entardecer ao pôr-do-sol. Imaginou atos e conseqüências e acabou por fingir que nada acontecera de maneira ilustre, majestosa, ou até mesmo funesta. Acabou por acreditar... Ouviu sua mãe e procurou um psicólogo.

- Psicólogo, mãe?
- Sim, por que não?
- Não estou louca!
- Não é por que diga que não está louca que não devera procurar um.

(Secretária)
- Senhorita Rivel, pode me acompanhar, por favor?
- Pois não.
- Aqui está, permaneça um instante aqui que seu médico já vem.
- Obrigada.

Era uma garota instruída, e agradeceu por agradecer, mas saberia que talvez fosse até melhor um "psicólogo"...

(Psicológo)
- Boa tarde, mocinha.
Ela odiava o "mocinha", mas sempre tinha um engraçadinho que assim a cumprimentava, por que não um mero psicólogo?!?
- Boa tarde e já vou avisando: foi idéia da minha mãe!
- Não se preocupe, as pessoas que me procuram, geralmente são da mesma faixa etária que você.
- Sim, mas meus amigos nunca procuraram um!
- Então, quer me contar o que está acontecendo? Sou amigo da sua mãe há anos e lhe conheci quando criança, era uma menina saudável e cheinha de sardas. Muito linda! Com o tempo você cresceu e se transformou numa pessoal incrível, com capacidades e habilidades que jamais encontrara numa pessoa de sua idade, acredito que esteja passando por um momento delicado e queira a compreensão de um adulto, não?
(Pausa) Pensei: "Poxa, ele disse que eu era cheinha de sardas! Não acredito!!"
- Sim, quero muito a compreensão de alguém da sua faixa etária, mas ainda não consigo imaginar por que não tenho a confiança de adultos!
- Fique tranqüila, ajudarei você. E esta consulta é cortesia, não se incomode. Venha na terça e trataremos do seu caso com mais calma. Tenho uma reunião importante e você será minha única paciente hoje. Começamos pela sua vida íntima pessoal, tem namorado?
- Mas é justamente dele (ex...) que vim lhe procurar. Terminei uma fase conturbada com ele há duas semanas e, às vezes, não consigo nem engolir a comida! Por que estou tão ligada à ele dessa maneira?
- Menina, estou vendo uma grande pessoa dentro de você, não que eu seja médium, ou coisa parecida, mas estou vendo, aliás, como qualquer pessoa está, que você é forte o bastante para superar uma fase dessas. Já pensou em cinema, praia, shopping, novos amigos, novas pessoas com quem possa dividir essas pequenas alegrias?
- Não consigo nem sair de casa, e quando procuro as pessoas que se diziam amigas, levo um não de volta!
- Não pode jamais deixar um sentimento tão obscuro dominar seus preceitos. Imagine que se um cachorro vai atravessando a rua e você vai dirigindo um carro, o cachorro pára bem em frente ao seu carro e você freia instantaneamente, mas o sistema de frenagem está irregular, pronto, você matou um cão! Irá se culpar pela morte dele?
- Não. O meu carro estava irregular, o que também me deixa a desejar uma mecânica com mais qualidade.
- Exato, mas você não teve culpa pela morte do cachorro.
- Eu acho que vou embora, talvez você tenha consigo complicar mais ainda minha situação...

Abriu a porta e deixou o consultório. Não acreditava que sua vida estava mesmo virando um "inferno particular"... Achou melhor arrumar suas malas e deixar a casa de seus pais, era maior de idade e poderia muito bem se virar sozinha...
Procuraria uma maneira mais acessível para melhorar sua vida íntima pessoal...
"Vamos mimiografar o futuro e imprimir o passado!"

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